O dia em que o mundo parou: 50 anos da morte de John F. Kennedy
Em novembro de 1963, dois tiros mataram o presidente dos Estados Unidos. Cinco décadas depois, o que mudou?
RODRIGO TURRER
22/11/2013 12h02 - Atualizado em 22/11/2013 14h38
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Dois tiros que mudaram os Estados Unidos e o mundo. Assim os americanos sempre enxergaram o assassinato de John Fitzgerald Kennedy, o 35º presidente do país, aos 46 anos de idade. Neste 22 de novembro, completam-se 50 anos desde que Kennedy foi morto, na cidade texana de Dallas, no carro aberto que também levava sua mulher, Jacqueline Kennedy, e o governador do Texas, John Connally. A polícia concluiu que os tiros foram disparados pelo ex-fuzileiro naval Lee Harvey Oswald, do 6º andar do depósito de livros da Texas School, com um rifle Carcano. Como no bombardeio de Pearl Harbor, em 1941, e no 11 de setembro, em 2001, os americanos se irmanaram. Cinco décadas depois, o assassinato continua envolto em mitos e mistérios – Oswald foi assassinado dois dias depois de Kennedy. Segundo uma pesquisa recente, 64% dos americanos acreditam ter havido uma conspiração para matar Kennedy.
Um dos mais instigantes dos 40 mil livros existentes sobre JFK foi escrito por Stephen King e publicado em 2011, Novembro de 63. Conta a história de um homem que viaja no tempo e vai a Dallas para impedir que Oswald atire. JFK exerceu a Presidência por apenas dois anos e dez meses – 1.036 dias. Ainda assim, segue um dos presidentes mais admirados da história americana. Será que ele fez tantas mudanças assim em seu curto mandato? Como ficariam os Estados Unidos se a morte de Kennedy tivesse sido impedida, como imaginou Stephen King? O assassinato de Kennedy realmente mudou os EUA e o mundo? Um olhar atento aos principais aspectos de seu governo mostra que não.
URSS, Cuba e Brasil
No governo JFK, a União Soviética era a nemêsis americana. Dois episódios em Cubasintetizam a atitude de Kennedy em relação à URSS e seus satélites: a invasão da Baía dos Porcos, em 1961, e a Crise dos Mísseis, no ano seguinte. Em ambos, Kennedy driblou a sanha militar de falcões americanos. Talvez por isso, passado meio século, muitos ainda mantêm vivo o mito de que JFK queria mais diálogo com a URSS. “Kennedy seguiu os princípios de contenção do comunismo da Doutrina Truman”, afirma Christian Ostermann, diretor do Departamento de História do Wilson Center. “Ele acreditava firmemente na Teoria do Dominó.” Pela teoria, se um país se tornasse comunista, os vizinhos poderiam seguir o mesmo caminho. Kennedy aprovou programas da CIA para desestabilizar governos comunistas e planos para assassinar o líder cubano, Fidel Castro. Ainda aumentou os gastos com armas nucleares e se preocupava com o Brasil. Seu sucessor, Lyndon Johnson, adotou, diante do golpe de 1964, planos deixados por Kennedy – em favor dos militares. Kennedy suspeitava das inclinações ideológicas do presidente João Goulart. Nada em seu governo permite imaginar que a proximidade entre Washington e o regime militar teria sido diferente caso Kennedy não tivesse sido assassinado.
No governo JFK, a União Soviética era a nemêsis americana. Dois episódios em Cubasintetizam a atitude de Kennedy em relação à URSS e seus satélites: a invasão da Baía dos Porcos, em 1961, e a Crise dos Mísseis, no ano seguinte. Em ambos, Kennedy driblou a sanha militar de falcões americanos. Talvez por isso, passado meio século, muitos ainda mantêm vivo o mito de que JFK queria mais diálogo com a URSS. “Kennedy seguiu os princípios de contenção do comunismo da Doutrina Truman”, afirma Christian Ostermann, diretor do Departamento de História do Wilson Center. “Ele acreditava firmemente na Teoria do Dominó.” Pela teoria, se um país se tornasse comunista, os vizinhos poderiam seguir o mesmo caminho. Kennedy aprovou programas da CIA para desestabilizar governos comunistas e planos para assassinar o líder cubano, Fidel Castro. Ainda aumentou os gastos com armas nucleares e se preocupava com o Brasil. Seu sucessor, Lyndon Johnson, adotou, diante do golpe de 1964, planos deixados por Kennedy – em favor dos militares. Kennedy suspeitava das inclinações ideológicas do presidente João Goulart. Nada em seu governo permite imaginar que a proximidade entre Washington e o regime militar teria sido diferente caso Kennedy não tivesse sido assassinado.
Corrida espacial
“Acredito que este país deva engajar-se em alcançar a meta, antes de esta década terminar, de levar um homem a pousar sobre a Lua e trazê-lo de volta à Terra em segurança.” As palavras de Kennedy, em cadeia nacional em maio de 1961, retratam seu medo de ver a Lua sob uma “bandeira hostil”, comunista. O grande feito de Moscou ocorrera um mês e meio antes. Em 12 de abril de 1961, a espaçonave Vostok-1 partiu da base de Tyuratam Baikonour, no Cazaquistão, e pôs Yuri Gagarin em órbita – o primeiro homem no espaço. Os americanos colocaram em prática seu plano de enviar um americano à Lua até o final da década. Após a morte de Kennedy, Johnson considerou questão de honra atingir o objetivo. A opinião pública ficou chocada quando os três astronautas da Apolo 1 morreram num incêndio na cápsula, durante um teste antes do lançamento, em 1967. O Congresso americano quase acabou com o programa, mas o presidente Johnson contornou a situação. “Ele percebeu que o programa espacial até poderia não resultar em nada, mas teríamos de fazê- lo”, afirma John M. Logsdon, autor de John F. Kennedy and the race to the Moon (John F. Kennedy e a corrida à Lua). Em 20 de julho de 1969, Neil Armstrong e Buzz Aldrin pousaram na Lua e pisaram na superfície cinza do Mar da Tranquilidade.
“Acredito que este país deva engajar-se em alcançar a meta, antes de esta década terminar, de levar um homem a pousar sobre a Lua e trazê-lo de volta à Terra em segurança.” As palavras de Kennedy, em cadeia nacional em maio de 1961, retratam seu medo de ver a Lua sob uma “bandeira hostil”, comunista. O grande feito de Moscou ocorrera um mês e meio antes. Em 12 de abril de 1961, a espaçonave Vostok-1 partiu da base de Tyuratam Baikonour, no Cazaquistão, e pôs Yuri Gagarin em órbita – o primeiro homem no espaço. Os americanos colocaram em prática seu plano de enviar um americano à Lua até o final da década. Após a morte de Kennedy, Johnson considerou questão de honra atingir o objetivo. A opinião pública ficou chocada quando os três astronautas da Apolo 1 morreram num incêndio na cápsula, durante um teste antes do lançamento, em 1967. O Congresso americano quase acabou com o programa, mas o presidente Johnson contornou a situação. “Ele percebeu que o programa espacial até poderia não resultar em nada, mas teríamos de fazê- lo”, afirma John M. Logsdon, autor de John F. Kennedy and the race to the Moon (John F. Kennedy e a corrida à Lua). Em 20 de julho de 1969, Neil Armstrong e Buzz Aldrin pousaram na Lua e pisaram na superfície cinza do Mar da Tranquilidade.
Vietnã e pacifismo
Com Kennedy vivo, os EUA teriam saído do Vietnã? Pouco provável. Ele mesmo decidiu invadir o país. Com Kennedy na Casa Branca, as tropas americanas saltaram de 900, em 1961, para 16 mil, em 1963. Assessores de Kennedy, como o autor de seus discursos, Theodore Sorensen, afirmaram que ele pretendia retirar todas as tropas do Vietnã até 1965. Seria uma mudança fundamental, que até poderia ter arrefecido o movimento pacifista que eclodiu no final dos anos 1960. Quatro dias depois do assassinato de Kennedy, Johnson emitiu um memorando ampliando o apoio aos vietnamitas do sul, em guerra com os comunistas do norte. Johnson foi mais linha-dura que Kennedy, e o número de tropas americanas no país chegou a meio milhão. Mas Kennedy sempre falou publicamente sobre a necessidade de não deixar o Vietnã se tornar um satélite comunista. “Kennedy considerava a Ásia fundamental na luta ideológica contra a URSS”, escreveu num artigo Joseph S. Nye, ex- conselheiro do Departamento de Defesa americano. “Talvez Kennedy não tivesse ido para cima dos vietnamitas com tudo, como Johnson, mas não há dúvida de que o envolvimento no Sudeste Asiático se prolongaria.”
Com Kennedy vivo, os EUA teriam saído do Vietnã? Pouco provável. Ele mesmo decidiu invadir o país. Com Kennedy na Casa Branca, as tropas americanas saltaram de 900, em 1961, para 16 mil, em 1963. Assessores de Kennedy, como o autor de seus discursos, Theodore Sorensen, afirmaram que ele pretendia retirar todas as tropas do Vietnã até 1965. Seria uma mudança fundamental, que até poderia ter arrefecido o movimento pacifista que eclodiu no final dos anos 1960. Quatro dias depois do assassinato de Kennedy, Johnson emitiu um memorando ampliando o apoio aos vietnamitas do sul, em guerra com os comunistas do norte. Johnson foi mais linha-dura que Kennedy, e o número de tropas americanas no país chegou a meio milhão. Mas Kennedy sempre falou publicamente sobre a necessidade de não deixar o Vietnã se tornar um satélite comunista. “Kennedy considerava a Ásia fundamental na luta ideológica contra a URSS”, escreveu num artigo Joseph S. Nye, ex- conselheiro do Departamento de Defesa americano. “Talvez Kennedy não tivesse ido para cima dos vietnamitas com tudo, como Johnson, mas não há dúvida de que o envolvimento no Sudeste Asiático se prolongaria.”
Direitos civis
Em 1963, o sul dos EUA ainda adotava políticas de segregação contra negros. Em junho daquele ano, Kennedy prometeu uma lei que daria direitos civis a todos os americanos. Dias antes, ele enviara soldados para garantir a matrícula de dois estudantes negros na Universidade do Alabama. JFK fez um movimento histórico, mas seu projeto ficou parado por meses, diante da oposição de republicanos e democratas do sul. Depois de seu assassinato, o presidente Johnson disse à nação que aprovar novos direitos civis “honraria” o legado de Kennedy. Em julho de 1964, Johnson conseguiu aprovar a Lei de Direitos Civis e a Lei dos Direitos ao Voto, que encerraram décadas de segregação racial. A esmagadora vitória democrata nas eleições de 1964, ainda sob a comoção da morte de Kennedy, ajudou Johnson a fazer as reformas sociais que pretendia. Nesse aspecto, o assassinato de JFK mudou mesmo a história: com ele na Presidência, tais avanços poderiam ter demorado mais.
Em 1963, o sul dos EUA ainda adotava políticas de segregação contra negros. Em junho daquele ano, Kennedy prometeu uma lei que daria direitos civis a todos os americanos. Dias antes, ele enviara soldados para garantir a matrícula de dois estudantes negros na Universidade do Alabama. JFK fez um movimento histórico, mas seu projeto ficou parado por meses, diante da oposição de republicanos e democratas do sul. Depois de seu assassinato, o presidente Johnson disse à nação que aprovar novos direitos civis “honraria” o legado de Kennedy. Em julho de 1964, Johnson conseguiu aprovar a Lei de Direitos Civis e a Lei dos Direitos ao Voto, que encerraram décadas de segregação racial. A esmagadora vitória democrata nas eleições de 1964, ainda sob a comoção da morte de Kennedy, ajudou Johnson a fazer as reformas sociais que pretendia. Nesse aspecto, o assassinato de JFK mudou mesmo a história: com ele na Presidência, tais avanços poderiam ter demorado mais.
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