As lições da seca que assola o semiárido

Agricultor no semiárido paraibano (foto Renato Stockler/Na Lata)
 
POR JOSÉ DIAS
seca que assola o semiárido da Paraíba já apresenta vários impactos. Mas, também, existem lições na vida de agricultoras e agricultores de base familiar.
As principais conseqüências foram levantadas num encontro itinerante de Gestão dos Fundos Rotativos Solidários, realizado neste mês na comunidade Santo Agostinho, município de Teixeira , com lideranças comunitárias e integrantes de famílias beneficiárias das ações desenvolvidas e apoiadas pelo Cepfs (Centro de Educação Popular e Formação Social).
Os principais impactos são: escassez de alimentos para os animais –famílias já estão comprando ração para salvá-los; escassez de água para o consumo humano e de animais; preço dos cereais elevado, que pode ocasionar fome, principalmente, nas famílias com mais fragilidades financeira; possibilidades de aumentar a migração campo-cidade, inclusive, para outras regiões do país; desânimo das pessoas, influenciando na diminuição da participação nos processos, sobretudo, em relação a temáticas de construção e aprimoramento dos conhecimentos.
O foco de preocupação das pessoas se volta para prioridades emergenciais. Tem aumentado a infestação do mosquito da dengue, por conta da estocagem de água, principalmente, nas cidades, em função do racionamento.
Há impacto na dinâmica de execução de projetos, dentro de uma abordagem participativa, uma vez que as preocupações se voltam para soluções emergenciais. Com isso, prevê-se influência na dinâmica dos Fundos Rotativos Solidários, do ponto de vista de arrecadação e de participação.
Também deve haver fortalecimento da dominação dos políticos tradicionais face às fragilidades das famílias pela coincidência de um ano de estiagem, também, ser um ano de eleições municipais.
As principais lições são a percepção da necessidade de se preparar mais nos períodos de chuva abundante, com maior estocagem de água e alimentos para os seres humanos e para os animais. Pode ser um momento para resgatar os mutirões de limpeza e escavação das cacimbas.
Impactos de curto, médio e longo prazos
Isso revela a necessidade, urgente, de medidas por parte dos gestores públicos no sentido de minimizar esses impactos em curto, médio e longo prazo.
Revela, também, a importância da mobilização social no sentido de cobrar que as políticas públicas, planejadas para esta região, sejam ajustadas para atender a realidade e as necessidades que as mudanças climáticas impõem, no momento.
Em curto prazo, medidas emergências são necessárias, a exemplo de decretação de estado de emergência, abastecimento de água através de carros-pipa e, em relação a alimentação, humana e animal , é fundamental que os estoques do governo federal, geridos pela Conab, possam ser disponibilizados no sentido de evitar a venda, com prejuízo, dos estoques agrícola e do rebanho animal de agricultores, patrimônio este constituído ao longo de vários anos, e ajustar o preço do mercado em relação aos cereais necessários à alimentação das famílias.
Em médio e longo prazos, é necessário planejar políticas que possam reforçar as estratégias que a sociedade civil vem adotando em relação à estruturação das propriedades da agricultura familiar, principalmente, na parte de manejo da água nas propriedades e nas comunidades, visando à estocagem de água e alimentos que permitam, em secas futuras, uma melhor convivência com a realidade semiárida.

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