Energia Nuclear na mesorregiao de Paulo Afonso-Ba
Nordeste reavalia interesse em usinas nucleares após desastres
Governo federal deve descartar anúncio do local das novas usinas ainda neste semestre, depois do ocorrido no Japão
Danilo Fariello, iG Brasília | 23/03/2011 05:58
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* Especial: Tsunami no Japão
O Brasil volta a discutir oficialmente hoje a instalação de pelo menos quatro novas usinas nucleares no território nacional em um debate certamente contaminado pelo tema da radiação, após o tsunami no Japão. Até o incidente em Fukushima, população e políticos tinham uma vaga ideia sobre o risco de um vazamento nuclear de grandes proporções. Agora, retomada a veiculação de imagens dos impactos da radiação, 25 anos depois de Chernobyl, os políticos e a população em geral olham para os bilhões de reais que a obra traz à região, mas com uma dose extra de receio.
Foto: Léo Ramos
Da direita para esquerda, Angra 1 e Angra 2. A primeira começou a funcionar em 1982 e a segunda, em 2000
A partir das 11 horas ocorre na Câmara dos Deputados audiência pública sobre a situação Programa Nuclear Brasileiro. Segundo o Plano Nacional de Desenvolvimento Energético (PNDE), o Brasil deve construir até 2030 pelo menos quatro usinas nucleares de 1 mil Megawatts, sendo duas em uma cidade do Nordeste e duas no Sudeste.
As novas usinas estariam 40 anos à frente às de Fukushima em termos de segurança, porque as japonesas já tinham essa idade, mas, mesmo assim, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas recuaram um pouco diante da possibilidade de receberem as usinas. Eles estavam de olho, principalmente, na chegada de indústrias ao redor das usinas, além de empregos e impostos. Agora, veem também o risco.
Foto: Léo Ramos Ampliar
A divisão do urânio libera radiação e gera calor, iniciando outros dois sistemas na usina, como mostra o esquema
Em Pernambuco, o governador Eduardo Campos chegou a afirmar, nas últimas semanas, que a decisão sobre as próximas usinas nucleares não deve ser tomada nos próximos quatro anos. “A usina não está na pauta”, afirmou ele, descartando o pleito que tinha anteriormente.
Para o secretário-adjunto de Minas e Energia de Alagoas, Geoberto Espírito Santo, é bom que a definição do local de instalação das usinas demore mais e supere esta fase mais emocional e ideológica após o acidente. “É preciso entendermos que o que provocou o acidente é algo muito remoto de ocorrer no Brasil, entretanto, não devemos deixar de lado os sinais de que nunca pode acontecer.”
Espírito Santo diz que o Estado de Alagoas não pode, por um nível de risco muito pequeno, deixar de receber investimento de R$ 10 bilhões. “Tudo na vida são custos e benefícios, por isso precisamos saber melhor o que aconteceu." Ele se refere à possibilidade bem menor de haver terremotos e tsunamis no território brasileiro do que no japonês.
Em Sergipe, Estado que também pleiteia a usina, o governador Marcelo Déda divulgou uma nota afirmando que o Brasil terá que reavaliar a segurança das nossas usinas e rediscutir o seu programa de expansão nuclear com novas instalações. “A pretensão do Estado de Sergipe em disputar a instalação de uma usina no nosso território pressupõe garantias plenas de segurança das instalações. Sem essas garantias, não há como defender tais empreendimentos”, declarou o governador.
Energia nuclear já ficou mais cara
Independentemente do risco ambiental e humano, já é praticamente certo esperar que a energia nuclear fique mais cara no mundo depois dos incidentes. Especialistas explicam que, em geral, as mesmas seguradoras que atuam no Japão fazem apólices para o mundo todo. O custo de seguro compõe o valor total que vai resultar na tarifa paga pelo usuário da energia. A ponderação de custo e benefício ambiental entre uma usina nuclear e uma hidrelétrica também pode ser revista pela sociedade momentaneamente.
Para o deputado Fernando Ferro (PT-PE), um dos autores do pedido de audiência na Câmara, é preciso repensar a instalação das usinas. “É como quando ocorre um acidente de avião, as pessoas ficam um tempo com medo de voar.” Para o deputado, é necessário aumentar o debate com a sociedade sobre a instalação das usinas, para saber se a população quer ou não viver perto de uma usina. “Não acho que todos que moram em Angra queiram o fim das usinas agora.”
Decisão agora seria politicamente incorreta
No entanto, os governos reconhecem que este não seria um momento politicamente correto para se anunciar a instalação das usinas. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, já declarou abertamente que as usinas terão sua segurança testada, mas ainda não reviu o prazo antes declarado, de que neste semestre ainda indicaria os locais de implantação. No entanto, essa medida já é tida como certa.
Após o vazamento de energia no Japão, o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, declarou que a presidenta Dilma Rousseff, “está extremamente preocupada com os efeitos, inclusive aqui sobre a nossa política, de toda essa questão da energia atômica, nuclear. Temos que, com responsabilidade, olhar isso. A presidente está o tempo todo acompanhando as informações e tomando as providências que forem necessárias.”
Técnicos avaliam locais possíveis
A demora para definição dos locais decorre também do fato de o governo ter resolvido interromper a segunda fase de avaliação dos sítios onde seria possível instalar as usinas para refazer a primeira fase de avaliação de todo o território nacional. Quem faz essa avaliação é a Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras. Esse grande atlas, de onde podem ser instaladas usinas nucleares no Brasil e onde podem ser depositados os resíduos nucleares, deverá ficar pronto em poucas semanas.
A decisão final de onde instalar as usinas vai ser política, mas o atlas da Eletronuclear levará em conta os cursos de instalação e transmissão de energia e o potencial de desenvolvimento regional com a instalação de novas usinas. O atlas vai avaliar 50 critérios sobre cada local possível.
Estarão na Câmara hoje Alfredo Tranjan Filho, presidente das Indústrias Nucleares do Brasil (INB); Odair Dias Gonçalves, presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), e o presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva. Na próxima audiência, o minsitro Lobão será convidado a dar mais explicações sobre o programa nuclear.
Atualmente, a CNEN coloca em curso uma pesquisa sobre o que fazer com os resíduos da geração de energia nuclear, que são altamente radioativos. A partir do atlas da Eletronuclear, também poderá ser escolhido um local no país para depósito permanente desses resíduos.
Governo federal deve descartar anúncio do local das novas usinas ainda neste semestre, depois do ocorrido no Japão
Danilo Fariello, iG Brasília | 23/03/2011 05:58
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* Especial: Tsunami no Japão
O Brasil volta a discutir oficialmente hoje a instalação de pelo menos quatro novas usinas nucleares no território nacional em um debate certamente contaminado pelo tema da radiação, após o tsunami no Japão. Até o incidente em Fukushima, população e políticos tinham uma vaga ideia sobre o risco de um vazamento nuclear de grandes proporções. Agora, retomada a veiculação de imagens dos impactos da radiação, 25 anos depois de Chernobyl, os políticos e a população em geral olham para os bilhões de reais que a obra traz à região, mas com uma dose extra de receio.
Foto: Léo Ramos
Da direita para esquerda, Angra 1 e Angra 2. A primeira começou a funcionar em 1982 e a segunda, em 2000
A partir das 11 horas ocorre na Câmara dos Deputados audiência pública sobre a situação Programa Nuclear Brasileiro. Segundo o Plano Nacional de Desenvolvimento Energético (PNDE), o Brasil deve construir até 2030 pelo menos quatro usinas nucleares de 1 mil Megawatts, sendo duas em uma cidade do Nordeste e duas no Sudeste.
As novas usinas estariam 40 anos à frente às de Fukushima em termos de segurança, porque as japonesas já tinham essa idade, mas, mesmo assim, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas recuaram um pouco diante da possibilidade de receberem as usinas. Eles estavam de olho, principalmente, na chegada de indústrias ao redor das usinas, além de empregos e impostos. Agora, veem também o risco.
Foto: Léo Ramos Ampliar
A divisão do urânio libera radiação e gera calor, iniciando outros dois sistemas na usina, como mostra o esquema
Em Pernambuco, o governador Eduardo Campos chegou a afirmar, nas últimas semanas, que a decisão sobre as próximas usinas nucleares não deve ser tomada nos próximos quatro anos. “A usina não está na pauta”, afirmou ele, descartando o pleito que tinha anteriormente.
Para o secretário-adjunto de Minas e Energia de Alagoas, Geoberto Espírito Santo, é bom que a definição do local de instalação das usinas demore mais e supere esta fase mais emocional e ideológica após o acidente. “É preciso entendermos que o que provocou o acidente é algo muito remoto de ocorrer no Brasil, entretanto, não devemos deixar de lado os sinais de que nunca pode acontecer.”
Espírito Santo diz que o Estado de Alagoas não pode, por um nível de risco muito pequeno, deixar de receber investimento de R$ 10 bilhões. “Tudo na vida são custos e benefícios, por isso precisamos saber melhor o que aconteceu." Ele se refere à possibilidade bem menor de haver terremotos e tsunamis no território brasileiro do que no japonês.
Em Sergipe, Estado que também pleiteia a usina, o governador Marcelo Déda divulgou uma nota afirmando que o Brasil terá que reavaliar a segurança das nossas usinas e rediscutir o seu programa de expansão nuclear com novas instalações. “A pretensão do Estado de Sergipe em disputar a instalação de uma usina no nosso território pressupõe garantias plenas de segurança das instalações. Sem essas garantias, não há como defender tais empreendimentos”, declarou o governador.
Energia nuclear já ficou mais cara
Independentemente do risco ambiental e humano, já é praticamente certo esperar que a energia nuclear fique mais cara no mundo depois dos incidentes. Especialistas explicam que, em geral, as mesmas seguradoras que atuam no Japão fazem apólices para o mundo todo. O custo de seguro compõe o valor total que vai resultar na tarifa paga pelo usuário da energia. A ponderação de custo e benefício ambiental entre uma usina nuclear e uma hidrelétrica também pode ser revista pela sociedade momentaneamente.
Para o deputado Fernando Ferro (PT-PE), um dos autores do pedido de audiência na Câmara, é preciso repensar a instalação das usinas. “É como quando ocorre um acidente de avião, as pessoas ficam um tempo com medo de voar.” Para o deputado, é necessário aumentar o debate com a sociedade sobre a instalação das usinas, para saber se a população quer ou não viver perto de uma usina. “Não acho que todos que moram em Angra queiram o fim das usinas agora.”
Decisão agora seria politicamente incorreta
No entanto, os governos reconhecem que este não seria um momento politicamente correto para se anunciar a instalação das usinas. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, já declarou abertamente que as usinas terão sua segurança testada, mas ainda não reviu o prazo antes declarado, de que neste semestre ainda indicaria os locais de implantação. No entanto, essa medida já é tida como certa.
Após o vazamento de energia no Japão, o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, declarou que a presidenta Dilma Rousseff, “está extremamente preocupada com os efeitos, inclusive aqui sobre a nossa política, de toda essa questão da energia atômica, nuclear. Temos que, com responsabilidade, olhar isso. A presidente está o tempo todo acompanhando as informações e tomando as providências que forem necessárias.”
Técnicos avaliam locais possíveis
A demora para definição dos locais decorre também do fato de o governo ter resolvido interromper a segunda fase de avaliação dos sítios onde seria possível instalar as usinas para refazer a primeira fase de avaliação de todo o território nacional. Quem faz essa avaliação é a Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras. Esse grande atlas, de onde podem ser instaladas usinas nucleares no Brasil e onde podem ser depositados os resíduos nucleares, deverá ficar pronto em poucas semanas.
A decisão final de onde instalar as usinas vai ser política, mas o atlas da Eletronuclear levará em conta os cursos de instalação e transmissão de energia e o potencial de desenvolvimento regional com a instalação de novas usinas. O atlas vai avaliar 50 critérios sobre cada local possível.
Estarão na Câmara hoje Alfredo Tranjan Filho, presidente das Indústrias Nucleares do Brasil (INB); Odair Dias Gonçalves, presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), e o presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva. Na próxima audiência, o minsitro Lobão será convidado a dar mais explicações sobre o programa nuclear.
Atualmente, a CNEN coloca em curso uma pesquisa sobre o que fazer com os resíduos da geração de energia nuclear, que são altamente radioativos. A partir do atlas da Eletronuclear, também poderá ser escolhido um local no país para depósito permanente desses resíduos.