Villas Bôas Corrêa - Política Brasileira
Baixa o nível da campanha
22/01/2010 - 23:48 | Enviado por: Mauro Santayana
Por Villas-Bôas Corrêa
Desde que acompanho como repórter as campanhas políticas, de 1948 para cá, o nível não é lá o recomendável para uma conversa em casa de família. Mas não há termo de comparação entre o Congresso da fase de ouro da eloquência parlamentar, quando as sessões da Câmara Federal, no Palácio Tiradentes, que hoje agasalha a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, atraíam um público cativo que se espalhava pelas galerias, entupidas nas tardes e noites dos grandes debates, e o pior de todos os tempo que nos envergonha na farra das mordomias, vantagens e privilégios, o campeão dos escândalos desde a mudança da capital para Brasília, ainda em obras. E que nasceu torta com a autonomia que a promoveu a um estado, com governador, Assembleia Legislativa, Câmara de Vereadores e a mania de grandeza que se embaraça em escândalos, até o recorde da distribuição, pelo governador Arruda, de pacotes de notas a secretários, deputados distritais, cupinchas flagrados escondendo a propina nas meias, calças, bolsos, cuecas, além da previdente senhora que levou a mala com chave para guardar o suborno, fechou a porta por precaução, mas esqueceu de desligar a máquina cinematográfica.
Não apenas necessito justificar-me como acho que os leitores que não viveram a época de ouro podem ter alguma interesse pelo testemunho de um dos poucos sobreviventes em que o Rio era a Cidade Maravilhosa, cheia de encantos mil e o Congresso com a mais brilhante equipe de oradores parlamentares. Outros tempos, outros costumes. O Senado, no Palácio Monroe, derrubado pela insensibilidade do presidente general Ernesto Geisel, era uma casa tranquila, com senhores de cabelos brancos ou carecas, que lá uma vez ou outra pegava fogo com grandes debates de oradores como José Américo de Almeida, Góis Monteiro, Mem de Sá.
A semana parlamentar começava na segunda-feira com sessões diárias e algumas extraordinárias até sábado. Jamais faltava quorum: senadores e deputados moravam no Rio com as famílias, e os subsídios eram modestos e impunham o padrão de vida modesta. Muitos parlamentares que depois foram governadores, como Aluisio Alves, Antonio Carlos Magalhães e José Sarney, hospedavam-se com as famílias no hotéis próximos à Câmara na Rua do Catete, Glória, Flamengo.
Mas eram os debates entre governo e oposição que vendiam jornais e lotavam as galerias. Carlos Lacerda foi o maior oradores que conheci, mas o maior discurso que ouvi de pé, na “terra de ninguém”, o espaço entre a Mesa da Câmara e o plenário, ao lado do deputado Gustavo Capanema e do saudoso amigo jornalista Oyama Telles, foi o do deputado Afonso Arinos de Melo Franco, líder da oposição, na crise de agosto, que terminaria com o trágico suicídio do presidente Getulio Vargas.
Tive o bom-senso de recusar as melhores propostas para mudar-me para Brasília. Não imagino como me sentiria frequentando o Congresso do escândalo do Senado ou a Câmara das mordomias, vantagens e mutretas.
A campanha que começa dentro do prazo legal em 3 de abril, antecipada pelo presidente Lula para o lançamento da candidatura da ministra Dilma Rousseff e que rolava morna e semiclandestina com as viagens a pretexto de acompanhar obras do PAC e do Minha Casa Minha Vida, esquentou de repente com o surpreendente destampatório da ministra Dilma Rousseff, que no discurso de terça-feira, em Minas, acusou o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE) de ter declarado que, se a oposição chegar ao governo, “acabará com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)”.
O revide do senador foi às últimas: “Dilma Rousseff mente. Mentiu no passado sobre seu currículo e mente hoje sobre seus adversários. Usa a mentira como método. Aposta na desinformação do povo e abusa da boa-fé do cidadão”. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Nem a pasmaceira da oposição ou o desembaraço de Lula e da candidata na peta que viajam para fiscalizar obras, nem a apatia da oposição, que não conseguiu fechar a chapa. Por ora, certo só o governador José Serra para presidente e o governador Aécio Neves para senador.
22/01/2010 - 23:48 | Enviado por: Mauro Santayana
Por Villas-Bôas Corrêa
Desde que acompanho como repórter as campanhas políticas, de 1948 para cá, o nível não é lá o recomendável para uma conversa em casa de família. Mas não há termo de comparação entre o Congresso da fase de ouro da eloquência parlamentar, quando as sessões da Câmara Federal, no Palácio Tiradentes, que hoje agasalha a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, atraíam um público cativo que se espalhava pelas galerias, entupidas nas tardes e noites dos grandes debates, e o pior de todos os tempo que nos envergonha na farra das mordomias, vantagens e privilégios, o campeão dos escândalos desde a mudança da capital para Brasília, ainda em obras. E que nasceu torta com a autonomia que a promoveu a um estado, com governador, Assembleia Legislativa, Câmara de Vereadores e a mania de grandeza que se embaraça em escândalos, até o recorde da distribuição, pelo governador Arruda, de pacotes de notas a secretários, deputados distritais, cupinchas flagrados escondendo a propina nas meias, calças, bolsos, cuecas, além da previdente senhora que levou a mala com chave para guardar o suborno, fechou a porta por precaução, mas esqueceu de desligar a máquina cinematográfica.
Não apenas necessito justificar-me como acho que os leitores que não viveram a época de ouro podem ter alguma interesse pelo testemunho de um dos poucos sobreviventes em que o Rio era a Cidade Maravilhosa, cheia de encantos mil e o Congresso com a mais brilhante equipe de oradores parlamentares. Outros tempos, outros costumes. O Senado, no Palácio Monroe, derrubado pela insensibilidade do presidente general Ernesto Geisel, era uma casa tranquila, com senhores de cabelos brancos ou carecas, que lá uma vez ou outra pegava fogo com grandes debates de oradores como José Américo de Almeida, Góis Monteiro, Mem de Sá.
A semana parlamentar começava na segunda-feira com sessões diárias e algumas extraordinárias até sábado. Jamais faltava quorum: senadores e deputados moravam no Rio com as famílias, e os subsídios eram modestos e impunham o padrão de vida modesta. Muitos parlamentares que depois foram governadores, como Aluisio Alves, Antonio Carlos Magalhães e José Sarney, hospedavam-se com as famílias no hotéis próximos à Câmara na Rua do Catete, Glória, Flamengo.
Mas eram os debates entre governo e oposição que vendiam jornais e lotavam as galerias. Carlos Lacerda foi o maior oradores que conheci, mas o maior discurso que ouvi de pé, na “terra de ninguém”, o espaço entre a Mesa da Câmara e o plenário, ao lado do deputado Gustavo Capanema e do saudoso amigo jornalista Oyama Telles, foi o do deputado Afonso Arinos de Melo Franco, líder da oposição, na crise de agosto, que terminaria com o trágico suicídio do presidente Getulio Vargas.
Tive o bom-senso de recusar as melhores propostas para mudar-me para Brasília. Não imagino como me sentiria frequentando o Congresso do escândalo do Senado ou a Câmara das mordomias, vantagens e mutretas.
A campanha que começa dentro do prazo legal em 3 de abril, antecipada pelo presidente Lula para o lançamento da candidatura da ministra Dilma Rousseff e que rolava morna e semiclandestina com as viagens a pretexto de acompanhar obras do PAC e do Minha Casa Minha Vida, esquentou de repente com o surpreendente destampatório da ministra Dilma Rousseff, que no discurso de terça-feira, em Minas, acusou o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE) de ter declarado que, se a oposição chegar ao governo, “acabará com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)”.
O revide do senador foi às últimas: “Dilma Rousseff mente. Mentiu no passado sobre seu currículo e mente hoje sobre seus adversários. Usa a mentira como método. Aposta na desinformação do povo e abusa da boa-fé do cidadão”. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Nem a pasmaceira da oposição ou o desembaraço de Lula e da candidata na peta que viajam para fiscalizar obras, nem a apatia da oposição, que não conseguiu fechar a chapa. Por ora, certo só o governador José Serra para presidente e o governador Aécio Neves para senador.
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