Há 20 anos o Muro de Berlim

Queda do Muro de Berlim: significado e consequências ainda reverberam

Robert J. Lieber *, Jornal do Brasil

WASHINGTON - Eventos importantes têm vida própria, e a Queda do Muro de Berlim pode ser incluído nesta lista. Duas décadas depois, o episódio ainda reverbera no que tange ao seu significado e às suas consequências. A entrada da alegre multidão de moradores da parte oriental na Berlim Ocidental, em 9 de novembro de 1989, representa não apenas memória indelével para aquelas pessoas, como simboliza transformações mais profundas: a reunificação pacífica da Alemanha, uma Europa unida e livre; o fim da Guerra Fria que ameaçava mergulhar os EUA, a União Soviética, e seus respectivos aliados em um conflito catastrófico; e uma evidência de que, ao receberem a chance de escolher, as pessoas acabarão exigindo a liberdade.

O muro caiu por motivos de grande e pequeno porte, embora isso não diminua a surpresa, ou o choque de ter acontecido tão de repente e de forma tão pacífica. Desde a criação da comunista República Democrática Alemã (RDA), no setor oriental da Alemanha, ocupada pela União Soviética no fim da Segunda Guerra Mundial, um grande número de pessoas aproveitou a oportunidade para mudar do leste para o oeste. Depois de agosto de 1961, os que se arriscavam a fugir o faziam sob circunstâncias bem perigosas e, às vezes, submetiam-se a condições letais.

Essas pessoas deixaram casas e amigos em busca de uma vida melhor, atraídos pelo materialismo e a liberdade do outro lado do muro. Nos últimos meses, à medida que a Tchecoslováquia e a Hungria liberalizaram, os alemães orientais fugiram em massa pelos países vizinhos. Ao tentar impedir a fuga, a GRD não pôde evitar derramamento de sangue. Além disso, os 400 mil soldados do Exército Vermelho alocados na Alemanha Oriental não iam parar, não em 1989, para salvar um cambaleante regime.

A Queda do Muro representou apenas uma das quatro transformações históricas comprimidas em um período curto: fim de uma Alemanha e de uma Europa divididas; fim da Guerra Fria; colapso do comunismo soviético e de quase todos os seus imitadores; dissolução da URSS em 15 repúblicas. Essas transformações estimularam um enorme otimismo. Seria esse o "Fim da História"? Os acontecimentos pós-Queda do Muro marcaram o início de mudanças dramáticas na Europa Oriental, no Cáucaso e na Ásia Central, assim como na América Latina e na África.

Transições para a democracia e distância de economias controladas pelo Estado eram práticas recorrentes em países do antigo Pacto de Varsóvia, nomeadamente a Polônia, a República Tcheca e a Hungria, mas também toda a região. A Federação Russa e muitas das suas 14 ex-repúblicas também adotaram formas democráticas de governo e de transformação econômica, embora muitas delas tenham se deparado com resultados decepcionantes. Na própria Rússia, as formas iniciais da democracia durante os governos de Gorbachev (1985-1991) e Boris Yeltsin (1991-1999) foram sobrecarregados por uma transição caótica, bem como por um colapso econômico.

De 1999 em diante, as instituições do país se tornaram cada vez mais estáveis, mas assumiram uma forma semiautoritária em que, apesar da aparência de democracia, o presidente Vladimir Putin (1999-2008; primeiro-ministro, desde 2008) e seus colegas lideraram o que a revista The Economist chama de um dos mais “criminalizados, corruptos, e burocratizados países do mundo”.

Mesmo onde a corrupção e o desempenho do governo não são fatores determinantes, algumas dúvidas podem continuar. Recente pesquisa de opinião na antiga Alemanha Oriental revelou que 57% dos entrevistados defenderam a antiga República Democrática Alemã, e até aqueles que admitem os aspectos negativos agora dizem que “a vida era boa lá.” Certamente, há certa nostalgia, ocasionada pelas frustrações previsíveis da vida cotidiana, especialmente em época de recessão e alto desemprego.

Explicar esse tipo de apologia à ditadura exige compreensão sensível das atitudes e experiência histórica. A população da Alemanha Oriental não estava acostumada com os desafios, os riscos, e as oportunidades de vida numa sociedade livre. Eles viveram por 56 anos sob ditaduras: de 1933 a 1945 sob os nazistas e, depois, até 1989 sob um regime comunista imposto pelos soviéticos. Adaptar-se à vida em uma democracia liberal e uma economia de mercado deve exigir mudanças referentes à geração.

A prevalência de uma futuro global para sociedades livres e economias de mercado não deve ser predeterminada, mas com esforço e comprometimento, a chance de sustentá-las e estendê-las continua promissora.

* Professor da Universidade de Georgetown

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