Consciência negra - dia 20 de novembro
Consciência negra: hoje, 20 de novembro, viva nosso líder Zumbi!
Jorge Portugal | Redação CORREIO
'A felicidade do negro é uma felicidade guerreira'. Iluminado Wally Salomão que sintetizou à risca o estilo de nossa luta. Em um país que manteve a escravidão até o último soar do gongo, as palavras étnico ou racial são capazes de reacender traumas freudianos.
Em um país em que, a partir de 14 de Maio de 1888, os ex-escravos foram empurrados para a margem da sociedade, sem trabalho, sem escola , sem cidadania, tocar nesse assunto 120 anos depois é quase provocar a ira dos 'homens bons'.
Por isso, a política de cotas causa tamanho mal –estar; por isso, o Estatuto da Igualdade Racial causa tanto clamor, porque traz, na sua definição, a palavra proibida: racial. Fosse igualdade social, igualdade cultural, igualdade surreal, até poderia; mas...racial, não! Tampouco étnica. É muito desaforo! Submete-se um povo pela força, transforma-o em motor perpétuo criador de riqueza, proíbe-lhe a religião, sua expressões culturais, cassa-lhe praticamente a alma por quatrocentos anos, e século depois de sua 'libertação', a 'elite branca' (definição de um dos seus pares) ainda tem chiliques quando se fala em reparar tamanho sofrimento e exclusão.
Os sons dos atabaques nos terreiros de culto aos orixás são uma
referência às nossas raízes africanas
Para esses 50,2% da população brasileira, ainda faltam lugares nas boas escolas e universidades; mas sobram assentos na maioria dos colégios públicos, sem material de estudos e sem professores presentes. Ainda falta a auto-estima da visibilidade positiva em cargos e postos qualificados; mas sobram lugares nas periferias e nas cadeias. Ainda falta lugar no acolhimento solidário do olhar que abraça a diferença; mas sobra espaço nas atitudes de preconceito e racismo que ainda são a marca de nossas relações sociais.
Temos, na Bahia, algumas belas e eficientes trincheiras que começam a comemorar significativas vitórias: da saída do Ylê Aiê, no carnaval de 1974 à criação das secretarias de promoção da igualdade racial ( municipal e estadual), passando pelo Instituto Steve Biko, Quilombos Educacionais, Central do Vestibular, MNU, Unegro, Fundação Palmares com Bira Castro e Zulu Araújo, reitorados recentes da Uneb e Ufba ( Ivete, Valentim e Naomar), tudo tem sido resistência e luta, como numa letra de rap, ou num reggae de Édson Gomes.
Os primeiros resultados dos cotistas da Uneb – que agora se formam – derrubam todos os argumentos dos opositores; revelam que aquilo que os negros e negro-mestiços fazem no campo da música, dança, culinária podem fazem mais ainda no campo da ciência.
Somos deuses do tambor, mas o tambor não pode virar mais um gueto! Movimentos negros e negros em movimento: Zumbi é espelho e referência, assim como Milton Santos, nosso Zumbi contemporâneo.Mas o Brasil só será uma democracia social quando conseguirmos a vitória da igualdade racial.Por isso, até chegarmos lá, 'todo dia é dia santo', 'dia 20' é todo dia.
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Por isso, a política de cotas causa tamanho mal –estar; por isso, o Estatuto da Igualdade Racial causa tanto clamor, porque traz, na sua definição, a palavra proibida: racial. Fosse igualdade social, igualdade cultural, igualdade surreal, até poderia; mas...racial, não! Tampouco étnica. É muito desaforo! Submete-se um povo pela força, transforma-o em motor perpétuo criador de riqueza, proíbe-lhe a religião, sua expressões culturais, cassa-lhe praticamente a alma por quatrocentos anos, e século depois de sua 'libertação', a 'elite branca' (definição de um dos seus pares) ainda tem chiliques quando se fala em reparar tamanho sofrimento e exclusão.
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Temos, na Bahia, algumas belas e eficientes trincheiras que começam a comemorar significativas vitórias: da saída do Ylê Aiê, no carnaval de 1974 à criação das secretarias de promoção da igualdade racial ( municipal e estadual), passando pelo Instituto Steve Biko, Quilombos Educacionais, Central do Vestibular, MNU, Unegro, Fundação Palmares com Bira Castro e Zulu Araújo, reitorados recentes da Uneb e Ufba ( Ivete, Valentim e Naomar), tudo tem sido resistência e luta, como numa letra de rap, ou num reggae de Édson Gomes.
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