Antropologia
Visto do céu, o Monte da Cruz de Paquimé, cidade arqueológica do século 14 situada no Estado mexicano de Chihuahua, parece uma rosa-dos-ventos – a figura que indica os pontos cardeais em mapas.
Foto: George Johnson/The New York Times O arqueólogo Stephen Lekson: teoria controversa (Foto: George Johnson/The New York Times)
“Daqui até o Chaco é uma caminhada e tanto”, diz Steve Lekson, arqueólogo da Universidade do Colorado, observando o eixo norte-sul da cruz. Cerca de 640 km ao norte fica o Parque Nacional Histórico da Cultura Chaco – um grande centro cultural, ocupado de 900 d.C. a 1150 d.C. pelo povo conhecido como anasazi.
Continuando por cerca de 96 km ao norte, ao longo da mesma linha reta, chega-se a outro centro anasazi, conhecido como Ruínas Astecas. Para Lekson, esse alinhamento é mais que uma simples coincidência: os locais são ligados por um antigo padrão de migração.
A reação cultural a algo que não estava dando certo era ir para o norte, e quando isso não funcionava, para o sul. Depois ia-se para o norte de novo, e para o sul outra vez"
Meridiano 108
Uma década atrás, no livro The Chaco Meridian: Centers of Political Power in the Ancient Southwest, Lekson argumentava que, durante séculos, os líderes Anasazi, guiados pelas estrelas, alinharam seus principais assentamentos nesse eixo norte-sul – o meridiano de longitude 108.
Cada povoamento, em seu próprio tempo, era o foco regional de poder econômico e político, e todos ficavam ao longo do mesmo meridiano. Quando um lugar era abandonado por causa da seca, violência ou degradação ambiental – os motivos são obscuros –, os líderes conduziam um êxodo a uma nova localização: algumas vezes ao norte, outras ao sul, mas sempre mantendo-se o mais perto possível do meridiano 108.
“Eu acho que o motivo é ideológico”, explica Lekson. “A reação cultural a algo que não estava dando certo era ir para o norte, e quando isso não funcionava, para o sul. Depois ia-se para o norte de novo, e para o sul mais uma vez."
Fanáticos por pontos cardeais
Existem muitas evidências de que os antigos americanos eram fanáticos pelas direções cardeais. Observe o céu da noite por tempo suficiente. Ficará claro que uma estrela não se move, enquanto as outras a circulam: a estrela do norte, ou Polaris. Motivadas talvez por esse conhecimento, algumas estruturas do Chaco são alinhadas em eixos norte-sul, e as paredes de terra de Paquimé fazem ziguezague – embora, segundo Lekson, tenham sido “projetadas em papel quadriculado gigante”.
Ao longo do sudoeste, religiões modernas de povoados geralmente incluem quatro montanhas sagradas, uma em cada direção, e seu povo conta histórias de ancestrais se mudando para o sul graças às coisas ruins que aconteciam ao norte.
Se essas pessoas eram “compulsivas pelo meridiano”, como postula Lekson,
elas detinham o conhecimento astronômico para planejar e seguir uma longa linha reta.
Exagerado
Mas para muitos colegas, Lekson exagera em suas extrapolações na constante tentativa de fazer ligações entre ilhas de pensamento isoladas.
“Definitivamente, Steve foi aquele que nos arrastou, aos gritos, para a arqueologia do quadro completo”, diz William D. Lipe, professor emérito de arqueologia da Universidade Estadual de Washington. “Em muitos aspectos, as ideias e publicações de Steve têm direcionado grande parte da agenda intelectual da arqueologia nos últimos vinte anos ou mais.” Isso não significa, segundo Lipe, que ele concorde com a ideia do meridiano do Chaco.
Em seu novo livro, A History of the Ancient Southwest, Lekson deve ir ainda mais fundo, ao oferecer um tipo de teoria unificada para os movimentos das populações nativas da América. Não há motivo para achar que o texto será menos controverso que a teoria meridional.
“O sudoeste é uma das regiões arqueológicas mais estudadas do mundo, talvez atrás somente de Atenas”, diz Lekson. “Por quilômetro quadrado, provavelmente foi investido mais dinheiro, tempo, energia e pensamento do que em qualquer outro lugar. Se não podemos fazer uma tentativa agora para colocar todas as peças juntas, devíamos simplesmente largar nossas ferramentas e desistir.
Foto: George Johnson/The New York Times O arqueólogo Stephen Lekson: teoria controversa (Foto: George Johnson/The New York Times)
“Daqui até o Chaco é uma caminhada e tanto”, diz Steve Lekson, arqueólogo da Universidade do Colorado, observando o eixo norte-sul da cruz. Cerca de 640 km ao norte fica o Parque Nacional Histórico da Cultura Chaco – um grande centro cultural, ocupado de 900 d.C. a 1150 d.C. pelo povo conhecido como anasazi.
Continuando por cerca de 96 km ao norte, ao longo da mesma linha reta, chega-se a outro centro anasazi, conhecido como Ruínas Astecas. Para Lekson, esse alinhamento é mais que uma simples coincidência: os locais são ligados por um antigo padrão de migração.
A reação cultural a algo que não estava dando certo era ir para o norte, e quando isso não funcionava, para o sul. Depois ia-se para o norte de novo, e para o sul outra vez"
Meridiano 108
Uma década atrás, no livro The Chaco Meridian: Centers of Political Power in the Ancient Southwest, Lekson argumentava que, durante séculos, os líderes Anasazi, guiados pelas estrelas, alinharam seus principais assentamentos nesse eixo norte-sul – o meridiano de longitude 108.
Cada povoamento, em seu próprio tempo, era o foco regional de poder econômico e político, e todos ficavam ao longo do mesmo meridiano. Quando um lugar era abandonado por causa da seca, violência ou degradação ambiental – os motivos são obscuros –, os líderes conduziam um êxodo a uma nova localização: algumas vezes ao norte, outras ao sul, mas sempre mantendo-se o mais perto possível do meridiano 108.
“Eu acho que o motivo é ideológico”, explica Lekson. “A reação cultural a algo que não estava dando certo era ir para o norte, e quando isso não funcionava, para o sul. Depois ia-se para o norte de novo, e para o sul mais uma vez."
Fanáticos por pontos cardeais
Existem muitas evidências de que os antigos americanos eram fanáticos pelas direções cardeais. Observe o céu da noite por tempo suficiente. Ficará claro que uma estrela não se move, enquanto as outras a circulam: a estrela do norte, ou Polaris. Motivadas talvez por esse conhecimento, algumas estruturas do Chaco são alinhadas em eixos norte-sul, e as paredes de terra de Paquimé fazem ziguezague – embora, segundo Lekson, tenham sido “projetadas em papel quadriculado gigante”.
Ao longo do sudoeste, religiões modernas de povoados geralmente incluem quatro montanhas sagradas, uma em cada direção, e seu povo conta histórias de ancestrais se mudando para o sul graças às coisas ruins que aconteciam ao norte.
Se essas pessoas eram “compulsivas pelo meridiano”, como postula Lekson,
elas detinham o conhecimento astronômico para planejar e seguir uma longa linha reta.
Exagerado
Mas para muitos colegas, Lekson exagera em suas extrapolações na constante tentativa de fazer ligações entre ilhas de pensamento isoladas.
“Definitivamente, Steve foi aquele que nos arrastou, aos gritos, para a arqueologia do quadro completo”, diz William D. Lipe, professor emérito de arqueologia da Universidade Estadual de Washington. “Em muitos aspectos, as ideias e publicações de Steve têm direcionado grande parte da agenda intelectual da arqueologia nos últimos vinte anos ou mais.” Isso não significa, segundo Lipe, que ele concorde com a ideia do meridiano do Chaco.
Em seu novo livro, A History of the Ancient Southwest, Lekson deve ir ainda mais fundo, ao oferecer um tipo de teoria unificada para os movimentos das populações nativas da América. Não há motivo para achar que o texto será menos controverso que a teoria meridional.
“O sudoeste é uma das regiões arqueológicas mais estudadas do mundo, talvez atrás somente de Atenas”, diz Lekson. “Por quilômetro quadrado, provavelmente foi investido mais dinheiro, tempo, energia e pensamento do que em qualquer outro lugar. Se não podemos fazer uma tentativa agora para colocar todas as peças juntas, devíamos simplesmente largar nossas ferramentas e desistir.